“Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo” (Michel Melamed)
“Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo”. É assim que começa um dos melhores textos (e melhores encenações) que eu já vi sobre relacionamentos, fragmento do espetáculo Regurgitofagia (2004), aquele no qual Michel Melamed recebia descargas elétricas no corpo a cada som emitido pelo público.
A fala é tão simples e tão verdadeira que a risada é inevitável. Personagens de alguma piada cósmica, nós realmente acabamos ferindo aqueles que dizemos amar. É como se nos aproximássemos para fazer carinho e, depois de algum tempo, por alguma distração, aflição ou confusão nossa, por medo ou insegurança, começássemos a tocar mais forte, segurar, arranhar, perfurar, rasgar a pele do outro.
Lama Padma Samten e Dzongsar Khyentse Rinpoche sempre usam o fenômeno do futebol para exemplificar nossas fixações e o sofrimento desnecessário gerado por acreditarmos na solidez de um jogo que nós mesmos inventamos. Já ouvi vários ensinamentos assim, mas foi só no domingo passado, assistindo a São Paulo x Fluminense, que percebi a incrível semelhança entre a ansiedade que eu sentia durante o jogo e a aflição que eu já senti inúmeras vezes por amor.
A cada boa jogada, a cada chute decente, eu amava o tricolor. A cada vacilada da defesa, eu o odiava. O jogo terminou empatado e eu fiquei mal, com o quase-título entalado na garganta. Se o São Paulo tivesse feito mais um gol, pronto, eu teria ficado aliviado, relaxado, feliz. Isto porque eu não sou um torcedor fanático, não vou a estádios, nada disso. Imagine se fosse! Com nossos parceiros, a mesma coisa acontece: “Eu odeio você!” se alterna com “Eu amo você!”.
Eis o motivo de acreditarmos na proximidade entre amor e ódio. Não é o amor que está próximo do ódio, mas o apego. Amar é desejar e agir a favor da felicidade do outro. Apegar-se é desejar que a própria felicidade venha das reações que cada ação do outro causa em nós. Um é ativo, outro é passivo. Um só depende de nós, em outro somos reféns. Nosso dilema é bem simples: queremos sentir algo, mas o tão sonhado amor não é um sentimento. Amor não se sente, amor se faz.
Durante o jogo, eu não amava o São Paulo, eu queria algo dele, eu esperava algo e eu coloquei minha alegria sob a seguinte condição: “Olha, se você fizer mais um gol, meu coração vai disparar, meu olho vai brilhar, minha boca vai soltar sons incompreensíveis e eu vou te amar ainda mais”. E uma outra cláusula ficou oculta: “Se você não ganhar o jogo, eu vou te odiar para o resto da vida”.
Podemos não gostar muito de futebol, mas somos todos fanáticos por mulheres e homens. Desejamos a alucinação que vem da paixão. Ansiamos pelo momento em que perderemos totalmente o bom senso. Queremos alguém que aceite nossa condição: “Olha, se você for um pouco bonito, fizer algumas coisas certas e me amar, meu coração vai disparar, meu olho vai brilhar, minha boca vai soltar sons incompreensíveis e eu juro que prometo te amar de volta”. Ignoramos a outra cláusula, assinamos tudo bem rapidinho e depois de algum tempo:
Adoreiiiiiii o post!
E veio bem a calhar nessa sexta!!
Essa parte então :”Desejamos a alucinação que vem da paixão. Ansiamos pelo momento em que perderemos totalmente o bom senso…”
um bj
E por que dói tanto, Gustavo?
Gostei muito do post e do vídeo claro…Ri imenso com o vídeo…
No fundo todos conhecemos a teoria e sabemos que mais tarde ou mais cedo certos comportamentos vão levar ao fim, mas na prática, todas as técnicas maravilhosas são postas de parte, e como de boas intenções está o inferno cheio, o inevitável acontece…
E relativamente ao “Amor não se sente, amor se faz.” li uma vez um texto bem interessante “Amar é uma decisão”, eu diria que para além da prática e da decisão, é necessário algo mais, mas também acho que esse algo mais é o mais fácil…o difícil é manter…é a tal prática e decisão…
Incrivelmente vejo mais namoros falhados em pessoas “alucinadamente apaixonadas”, como se a “total perda de bom senso” nesses momentos as leve a cometer mais rapidamente os maiores erros. Momentos em que o vídeo se aplica na perfeição e num instante se passa de “mais feliz do mundo” à mais “solitária do mundo”…
E do “alto” do meu bom senso, pés do chão, prática e decisão eu tenho uma pontinha de inveja dessas pessoas de momentos loucos em que tudo é perfeito…nem que seja por breves momentos…
[…] Leia mais direto na fonte: nao2nao1.com.br […]
o mais louco é que na vida é importante ter certa consciência da impermanência das coisas e, ao mesmo tempo, qdo apaixonados, não impedimos de a sedução do “amor eterno” nos laçar… a gente paga pra ver. E pensa: que seja eterno enquanto dure – com o tom mais maduro e mentiroso.
E olha que quem tem mais neura com controle, perde as calças qdo se vê querendo perdê-lo.
Mas esse negócio de futebol… ninguém jura amor ao palmeiras e depois de certo tempo (mais ou menos 2 anos, segundo pesquisas), vai torcer alucinadamente pelo São Paulo. Nisso, o amor e o futebol não se podem comparar. O amor ao time é extremamente fiel; e futebol é uma perda de tempo.
Lara, boa!
Mas olha: eu acho que só não trocamos de time porque nunca um time vai nos trair, foder nossa mente, não querer sair de fds, ficar feio e chato, travar nossa vida, ter um filho, querer divórcio, ter ciúmes, nada disso…
Se tivéssemos uma relação assim, certamente passaríamos por umas 5 torcidas durante uma vida. 😉
Sobre saber da impermanência e desejar amor eterno, concordo! Lembro de ter escrito sobre isso aqui:
http://nao2nao1.com.br/sobre-mascaras-rotulos-e-essencias/
Meu Deus!!!
Será que estou confundindo ansiedade com desejo???!!!
Gu fala sobre ansiedade por favor!!! Acho que amo o São Paulo e desejo o… Ou será o contrário? kkkkkk Nem sei mais!!!
É como se nos aproximássemos para fazer carinho e, depois de algum tempo, por alguma distração, aflição ou confusão nossa, por medo ou insegurança, começássemos a tocar mais forte, segurar, arranhar, perfurar, rasgar a pele do outro.
Já vi muito isso acontecer, muitas vezes que está ferindo não percebe. Acha que o outro é que está se distanciando e tenta segurar com mais intensidade, causando os ferimentos. Quando a solução é deixar a mão em concha, protegendo e libertando ao mesmo tempo.
Muito bom esse texto, como vários outros.
Poxa, que coincidência!
Ontem assisti a uma reportagem na qual o próprio ator comentava sobre essa peça… Já estou quase me tornando fã dele, e ansiosíssima para a estréia da minissérie “Capitu”!
Quanto ao amor… Já perdi tantas noites pensando em como ele é falso e hipócrita, que prefiro nem comentar! Já o futebol… Só assisto à seleção!
:p
Me fez pensar, è um tipo de peça tão crítica quanto esta, o texto nem tanto, que faz a sociedade optar pelo medo de se relacionar com o outro não acham???
Tudo seria tão mais fácil se cada um dos lados no relacionamento assumir responsabilidade pelo que fez ou deixou de fazer, tudo é escolha, tudo é crescimento e dura exatamento seu tempo necessário. Por isso sempre vale a pena amar, ter filhos sim (guarda compartilhada em caso de divórcio) e assumir responsabilidades. Como disse Roberto Carlos ;P: “se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi”.
Se existe a pessoa que: “deseja e agi a favor da felicidade do outro”, também existe a pessoa que recebe esse desejo e ação, pelo menos o mínimo necessário para que saiba que um sentimento existe, isso não chega a ser apego se pensarmos que não somos “adivinhadores de pensamentos”.
Sentimos o amor quando este se torna ação.
Manifestem-se.
Gus: adoro seu blog, ótimos textos, todos me chocam de alguma maneira.
Agora… tipo assim: Ame muito, para sempre o tricoloooôôôôôôôôô…….
Ame o hexa até o próximo jogo perdido… rs
Oi Jamile,
“o amor é falso e hipócrita”? Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, né? O amor é de cada um, não é de outra pessoa. A capacidade de amar é de cada um. Se você tem essa capacidade de amar, não deixe experiências ruins destruirem isso que é seu! Em algum momento alguém saberá receber esse seu amor que é verdadeiro e construtor.
Se você ainda acredita, continue nesse “time”, please! Apesar das dores e dos desencontros, o mundo precisa muito mais de crentes do que de ressentidos.
O amor não tem nada a ver com nossas limitações.
[ ]ão
Desculpem os erros de português…
Somos Hexa, amigos saopaulinos de coração, não desistimos do objetivo e conseguimos ser os melhores…hehehe na derrota e na vitória estamos juntos.
Incrível…
Hoje mesmo me “despedi” do meu namorado mandando-o à merda, bem baixinho e apontando o dedo pra ele, e virando as costas pra ir embora pisando firme.
Desci a rua pensando… intrigada com o fato de que há tão pouco estávamos tão bonitinhos, tão carinhosos, como costumamos ser um com o outro…
Sensação estranha, parecia que eu tinha que ser uma outra ‘eu’ no tipo de situação que tinha acabado de acontecer.
E é bem isso: minha expectativa de gol tinha sido frustrada. Ele disse o que eu não queria que tivesse dito. Nem era um caso seríssimo, gravíssimo, mas é o tipo de coisa que sempre causa a preocupação idiota de pensar no futuro, pensar se diante daquele tipo de situação a pessoa vai sempre agir daquele jeitinho incômodo… “Não esperava isso de você” – eu disse. É de rir, porque engraçado, de tão ilustrativo…
E, no final, fiquei mais chateada por ter quebrado momentaneamente algo entre nós com o meu “vá à merda”, do que pela própria situação. Fica estranho…fica algo suspenso, algo irreal… (situação que até agora perdura… ). É o apego enchendo o saco do amor…
“Mas olha: eu acho que só não trocamos de time porque nunca um time vai nos trair, foder nossa mente, não querer sair de fds, ficar feio e chato, travar nossa vida, ter um filho, querer divórcio, ter ciúmes, nada disso…”
Êh! Seu Gitti! Têm um pequeno detalhe neste seu depoimento que eu não engulo: aposto que quem “foder com sua mente” vai te ter fácil, fácil.
Tô certa?
abraço
“Êh! Seu Gitti! Têm um pequeno detalhe neste seu depoimento que eu não engulo: aposto que quem “foder com sua mente” vai te ter fácil, fácil.
Tô certa?”
Claaaaaaaro!
O melhor jeito pra praticar o que quero praticar e pra brotar todos os mais escondidos e sutis obstáculos e fixações é conviver com uma mulher que fode com minha mente o tempo todo, seja por sua beleza que me distrai, seja por suas reclamações constantes que me irritam ou por suas mil necessidades (a pílula que tem de passar na farmácia e levar, a porra da banana nanica que tem de ser nanica porque prata, a que eu adoro, ela não gosta, a merda do gengibre pra preparar a porra do chá que ela quer que eu faça porque ela está meio mal) que faz brotar generosidade e compaixão em mim.
Sacou?
Ter uma menina morna do lado que só me elogia, faz o que eu quero e não dificulta nada as coisas… bem, isso não ajuda em nada, melhor ficar sozinho.
E eu juro que queria estar brincando, mas não estou.
Abraço em vc.
Ahh ninguém gosta de relacionamento água morna. Todo mundo gosta dos desafios. Sem contar que são muito mais divertidos. Eu não quero me relacionar com a minha versão masculina. Eu quero alguém diferente, aprender, ensinar e trocar. Quero tuuudo!!!
O amor não é hipócrita, o medo de trocar, se envolver, perder… faz com que as pessoas usem máscaras. Mas quando elas começam a cair, quando vem a cumplicidade e o outro começa a se mostrar é muito legal!!!
Tem um texto aqui no blog sobre o sentir e dar amor que eu gostei tanto. Aprendi a olhar um dar e receber amor de modo diferente pela minha perspectiva e pela do outro também.
Não ferimos pelo amor sem si… mas por todos os outros sentimentos e sensações que temos no decorrer de um amor vivenciado.
No caso do amor entre casais, o que buscamos, na verdade, é o amor junto com paixão! Quando é só amor, muitos confundem com “comodismo” ou até a “falta de amor”, pois o coração não bate mais forte, as mãos não ficam mais úmidas, a ansiedade não deixa mais a sua mente desfocada.
Mas o que se compara ao beijo da boca que se deseja, o calor da pele ao toque da pessoa que você ama, a conversa a toa, de mãos dadas, na cama…?? Ou então comparamos a sensação do primeiro beijo, a primeira transa, que foram recheados de paixão, desejo e medo, com aquilo que se tem depois de um tempo de relacionamento. O desejo por tudo aquilo que nos tirou do sério nos desperta sentimentos, e que chegam, muitas vezes, muito mais forte do que qualquer lembrança pelo amor que já existe lá dentro. O que comanda as ações são os desejos.
Ferimos porque o ataque é a melhor forma de se fazer entender o próprio sofrimento. Sofremos porque desejamos. Desejamos porque experimentamos outros estados de não lucidez que nos fizeram felizes.
Se escalonarmos esses sentimentos, vemos que o amor está na base, e o que está mais superficial é o sofrimento do desejo não consumado.
E daí, o complicado de tudo não é encontrar (ou manter) o amor. É conseguir anular tudo aquilo que o esconde lá no fundo do pote …
OOhh… Capitu.
Menino, menino, adorei sua resposta! Há 2 dias fudi pra valer com a mente de um “amigo”…agora quero fuder com o resto!
Puxa, muito legal esse blog… Entrei aqui por um acaso, procurando… nem sei mais o que, mas que é mais bacana é que me deparo com algo que está tão próximo de mim: essa montanha-russa que é um relacionamento afetivo-sexual, esse misto de amor e posse, de querer bem e mal, de querer alucinadamente estar junto da pessoa, ao mesmo tempo em que se deseja ardentemente ficar um pouco só, para saber o que sobrou de si próprio…
Vivo isso – pela primeira vez na minha vida, aos 23 anos, e estou me sentindo andando em uma corda-bamba. Tem horas em que eu quero muito esse relacionamento, em que estou tão apegada… E no outro – é essa coisa que a Paula A falou aí em cima, uma coisa, de nada, que faz você pensar no quanto é apegada à pessoa, porque uma bobeirinha detonou um sentimento de que aquela sua relação “lindinha” tem que durar, e tem que ser assim pra sempre, e te faz ver que o que está, do jeito que está, não está bom, e que é melhor se desprender…
Será que o apego deixa?
Não me considero uma pessoa religiosa, embora tenha curiosidade por todas as leituras sagradas do mundo (!)e, tem uma frase de Krishna, no Bhagavad Gita que ilustra bem:”realiza o teu trabalho para que aconteça o que deve acontecer, mas age sem apego”. E que aconteça, sem apego nem interesse!
[…] das reações que cada ação do outro causa em nós.” Retirei a frase acima do excelente blog do Gustavo […]
Bem Interessante o assunto, pois isso acontece meio que a todo momento, pois muitas pessoas dizem isso apenas para receber algo em troca e isso normalmente sao os homens quem falam essa frase pois na verdade o homem que fala isso muitras vezes quer apenas prazer enquanto a mulher der prazer a ele, claro que ele sempre amará a mulher, isso se ele estiver apenas querendo ter prazer com akela mulher, agora a pessoa que realmente ama ela nunca teria coragem de fazer isso ela teria prazer em ver a outra pessoa ao lado dela sempre feliz e isso sim faria o parceiro amar cada vez mais e talvez eternamente a parceira dele, esse negocio de casa comigo que eu te faço a pessoa mas feliz é complicado porque muitas pessoas realmente quebram a cara ao acreditar na palavra de uma pessoa que pouco conhece, oque acontece muito hoje em dia.
Grata surpresa…
Cheguei a esse site guiada pelo Yahoo e foi ótimo saber que depois de Tati Bernardi e outras tantas, há um homem tratando dos “assuntos do coração”, ainda mais citando Melamed.
Foi um prazer, Gustavo. Espero poder voltar mais vezes e já estou recomendando a página pra uma amiga.
p.s.: Tb estou me formando em pedagogia pela USP 😉
“Ter uma menina morna do lado que só me elogia, faz o que eu quero e não dificulta nada as coisas… bem, isso não ajuda em nada, melhor ficar sozinho.
E eu juro que queria estar brincando, mas não estou”
REALMENTE GUSTAVO…
Passo exatamente por isso, e fico puto comigo por isso, mas fazer o que, é uma delicia ver o rostinho dela falando…”brigadinha tá!? :D”
Parabéns pelo texto!
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