Paixão e Intimidade
Paixão é o risco vindo do mistério do outro. Intimidade é o conforto que a transparência oferece. Qual você prefere em um relacionamento?
Estava lendo uma resenha sobre o livro The Erotic Mind: Unlocking the Inner Sources of Sexual Passion and Fulfillment, de Jack Morin (publicado no Brasil pela Rocco).
Achei interessante a distinção que ele faz entre intimidade e paixão. Intimidade é definida como a sensação de conhecer cada detalhe do parceiro – é a segurança, o conforto, a transparência, um sentir-se em casa. Já a paixão surge quando percebemos o parceiro como um mistério insondável, como alguém que nunca poderemos conhecer, tocar ou acessar totalmente – é a insegurança, o risco, o incerto, a aventura.
Eu ainda não li o livro, mas sinto que as relações que possuem apenas um desses contrários não duram muito, não se desenvolvem, não nos completam. Somente intimidade é quase como uma profunda amizade. Não há desejo sexual, não há polaridade entre os parceiros, não há vontade de penetrar o outro, não há surpresas, somente um terno abraço e um longo andar de mãos dadas. Por outro lado, se uma relação é construída somente pela paixão, os laços são frágeis e nossa ânsia por intimidade rapidamente desgasta os encontros. Sem intimidade, fica faltando algo no sexo, no carinho, na conversa. Fica faltando algo na própria paixão.
Talvez a paixão autêntica apenas floresça em meio à intimidade. Talvez a intimidade só surja com a paixão, como o côncavo e o convexo. Talvez elas nasçam e morram juntas, pois quando o que existe é a sensação de saber tudo sobre o outro, há o tédio e não intimidade, e quando o outro é apenas um mistério inalcançável e fascinante, há a distância e não a paixão. Sem paixão, a intimidade acaba morrendo por asfixia, sem conseguir expressar-se por meio de atos transgressores. Sem intimidade, a paixão não se sustenta e perde o sentido, como um final de filme para quem não viu o início e o meio.
Tem de haver contato, mas o contato nunca pode chegar a acontecer… Por isso nos beijamos, esfregamos, suamos juntos: tentamos o contato que não é possível por meio dos contatos que nos são possíveis.
Sexo e abraço, aventura e acolhimento, paixão e intimidade. O sexo pleno demanda o mínimo de intimidade e a conexão transparente só nos completa quando se desdobra em sexo, em paixão, em envolvimento com um outro que nunca se mostra totalmente ao nosso olhar.
Somos, a um só tempo, totalmente expostos, cognoscíveis, e totalmente inacessíveis, incognoscíveis. Nosso parceiro sempre está perto demais e distante demais. Em nossa dimensão epidérmica, desejamos nos vestir com o outro, desejamos intimidade. Em nossa dimensão abismal, nos apaixonamos ao correr a distância irredutível do outro.
Caí nesse blog meio ao acaso (li alguns artigos seus na Papo De Homem), e estou simplesmente sem palavras. Juro que não consigo achar palavras para comentar esse post!
Que bom, Bruno. Valeu pelo comment.
Normalmente é o público feminino que gosta dos textos. MUITO legal saber que tem homens por aí sabendo valorizar essas questões também.
Abraço!
[…] Não escolhi tampouco os três últimos títulos, já que não tenho certeza de que todos lerão o seguinte artigo do Contardo Calligaris (Folha de São Paulo, 11/11/2005): “Melhor não conhecer quem você ama”. Pois insisto: não prossigam aqui sem antes passar pelo Contardo. Além disso, lembro que esse post aprofunda um mais antigo do Não2Não1: “Paixão e intimidade”. […]
Penso, sinto e manifesto,que se carinho, não há intimidade.
Grande beijo pra tu escritor iluminado.
Sem paixão, a intimidade acaba morrendo por asfixia, sem conseguir expressar-se por meio de atos transgressores…
…………………Disse TUDO!
Que moço interessante.
Atualmente ando às voltas sobre essa tal intimidade, não só a intimidade nas relações entre o casal, mas também nas amizades, entre familiares etc.
De um lado, como diria uma sábia amiga “a intimidade é uma merda!” (aguarde um post sobre o assunto), mas por outro, sem ela a vida não passa de um cinza e morno letárgicos.
Interessante essa idéia de que só intimidade faz com que a relação vire uma profunda amizade, a mais pura verdade, mas, definitivamente “sem intimidade, fica faltando algo no sexo, no carinho, na conversa. Fica faltando algo na própria paixão”.
É quase um alívio que me dá ao me ler no que escreve.
ja tiveram a sensaçao de experimentar pela mesma pessoa, paixao e intimidade em completa assincronicidade?
é engraçado… No inicio aquela paixao que a gente tenta controlar com a busca da intimidade, a paixao queima, a intimidade existe. A separaçao acontece por um fator externo, a paixao se guarda, bem no fundo de uma gaveta. com a intimidade é impossivel de fazer o mesmo. ela esta la e qualquer minimo contato a instiga.
e a intimidade iminente tenta abrir aquela gaveta trancada. e o bom senso vendo isto tudo mostra a data de validade passada…
tudo culpa da assincronicidade…
muito interessante mas o bom mesmo eh ter os dois…
Deixe seu comentário...
Novos posts direto no seu email
Sobre o autor
Coordenador do lugar
Professor de TaKeTiNa
Colunista da revista Vida Simples
www.gustavogitti.com
Categorias
Twitter @gustavogitti
Siga @gustavogitti no Twitter!
Tweets de @gustavogitti