Em um dia (de Natal ou não)…
Ontem joguei bola com meu irmão de 8 anos, na quadra e no playstation. Brincamos de matemática também: “Quantos anos tem uma pessoa que nasceu em 1325?”. E não é que ele acertou todas de cabeça? Meu pai me ensinou os segredos do preparo da costela de porco à pururuca. Minha irmã chegou chorando (confusões de pais separados) direto para um abraço. E tinha o cara misterioso do metrô. E o mendigo que elegeu uma esquina como casa. Quanto ao casal que entrou junto a mim no prédio, não os conheço, mas creio na sua felicidade.
Em Belém, horas de distância, o casal mais bonito que já vi celebrou o amor que não é deles. Tentaram transmitir via streaming; não deu certo. Casar-se na véspera de Natal… Aproveitar a abertura das pessoas. Natal e Réveillon é só isso: as pessoas ficam mais abertas, sabe-se lá por quê. Amor também, só isso: as pessoas ficam mais abertas, sabe-se lá por quê.
Todos os meus amigos que não vi. Todos os outros que ainda não conheci. Todos aqui dentro, cantando REM em coro: ‘Cause everybody hurts…
E os amantes. Um fica mal, outro se distancia, ela agride, ele trabalha demais, um dorme, outro sorri de longe, ela chora, ele não vê, mas em algum dia (de Natal ou não) eles se olham e não acreditam no milagre que é estar ali, juntos, depois de TUDO aquilo, como em um filme, um sonho.
Meu desejo aos casais recém-nascidos, cansados, extasiados, brigados ou separados: não se despeçam antes desse dia. Explorem os meandros do amor, provem cada sabor, deixem tudo mudar ao redor e fiquem até o final, só para ver até onde o amor pode se transformar, até onde nos leva esse mistério que nos colocou aqui.
Brigas, erros, problemas, discussões, obstáculos, desatenções, tolices, dores, contrações. Coloque tudo em cima da mesa e sirva com vinho. Convide o outro do jeito que ele está, sem mudar nada, e penetre-o com tudo o que você tem, sem nada esconder.
A quadra e o playstation. A conta de matemática. A pururuca, o choro. O metrô, o mendigo e a felicidade imaginada. Streaming de Belém. Meus amigos, REM, os movimentos dos amantes. O dia de Natal ou qualquer outro. Não sei por que, mas tenho certeza que é só disso que me lembrarei segundos antes de morrer.

monsieur Gitti, cara, eu simplesmente adoro qdo descubro q vc postou e q são textos assim ;0)))))
Olá Gustavo,
Obrigada por suas palavras. Elas são um incentivo para escrever mais!
Gosto muito de seus textos e acompanho seu blog há tempos.
Feliz 2008!
Liliana
Nossa! Que texto lindo cara!
Realmente emocionante. Fiquei aqui pensando nas pequenas e lindas coisas que eu sempre vou lembrar, até meu último dia aqui.
Feliz ano novo para você.
Que surpresa boa! Textos de extrema sensibilidade.
Muito bom ver esse tipo de reflexão na rede. Adorei!
Mas agora você vai ter de contar os segredos do preparo da costela de porco a pururuca pra o Braun Café. Feliz 2008!
Quanto mais “te leio” mais gosto! Acho surpreendente a forma como voce consegue simplificar a vida. E assim voce cata lá dentro de cada leitor uma simplicidade absurda…
Parabens! Meesmo.
[…] This post was mentioned on Twitter by Thiago Ribeiro, Gustavo Gitti. Gustavo Gitti said: "Em um dia (de Natal ou não)". Texto de 2007: http://bit.ly/9A8wWD […]
Achei lindíssimo! Sensível!
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