Oferecer
Sorriso solto do Shunryu Suzuki
Quando você for para o trabalho, para a faculdade, para uma balada, não vá com uma postura de buscar algo, conseguir algo, sugar algo do local ou das pessoas. Vá para oferecer, vá para gentilmente entregar às pessoas as qualidades de sua simples presença. Ofereça qualquer coisa. Um olhar profundo já é muito hoje em dia. Vá para os lugares e apenas treine olhar tudo com um olhar de abismo. Muitas pessoas precisam só disso: serem olhadas, contempladas suave e lentamente, reconhecidas em sua manifestação mais sutil, tocadas de alguma forma e conectadas com um outro que as transcende e reacende o mistério que as faz viver.
No momento em que se coloca em uma posição mendicante, você adentra um mundo de carência, sente-se incapaz de oferecer algo aos outros e termina com um olhar que suga e enfraquece a energia de qualquer um ao seu redor. Ao final do dia, você continuará insatisfeito e certamente terá construído relações patológicas com os seres, baseadas em sua carência.
Por outro lado, se adotar uma postura expansiva e radicalmente aberta, oferecendo sua existência ao deleite dos outros, você age reconhecendo que não tem nada a perder. Não há medo nem hesitação em seu olhar. Sem esperar ou exigir nada dos outros, você age desimpedidamente, em uma dança sutil em meio às situações. Qualquer solidez ou bloqueio é atravessada por sua leveza e transparência. Qualquer obstrução é liberada pela presença da sua espontaneidade. Você apenas sorri e faz todos sorrirem, ou ainda: você cria o espaço para que todos possam sorrir.
Seu olhar sequer vem de seus olhos. É não-local, surge em qualquer olho, surge do espaço entre os seres, dos rizomas que os transpassam. Você age sem estratégias e cria um raro ambiente no qual cada pessoa se sente livre para igualmente abandonar suas estratégias e apenas ser. Isso é um alívio para qualquer um.
Quando nos apresentamos como mendigos, quando pedimos por algo, tudo nos é insuficiente, ralo, pouco. No fundo, estamos fechados e por isso acabamos não vendo o que há, sem perceber os tesouros de cada lugar, de cada ser, de cada evento. É o coração contraído que suplica, que pede, que suga. Quando vamos sem nada pedir, estamos abertos. Tudo nos arrebata. Tudo já é demais e nos enriquece imediatamente. A qualidade viva das coisas faz nossa visão transbordar de luminosidade.
Ao final do dia, brotará em você uma alegria sem causas, não condicionada. Não há frustração ou insatisfação. Você apenas deu o seu melhor e sente-se em paz. Não interessa se alguém notou, se recebeu elogios ou se você foi completamente ignorado. Você ofereceu toda a sua profundidade. Não há presente maior que um homem possa dar.
Olá, Gustavo!
Creio que vc tenha escrito esse artigo há mais de um ano, mas eu o li só agora! E caiu como uma luva…
Minhas emoções obviamente não são estáticas e estão flutuando para o lado de uma postura mendicante, que vc muito bem explicou, por sinal.
Suas palavras sobre uma atitude mais generosa foram como “um tapa na minha cara”, no único bom sentido que essa frase pode assumir.
Nesta noite, não posso deixar de lhe oferecer o meu muito obrigado…
Um forte abraço,
André
“Olhar de abismo” Seria um olhar imparcial, sem preconceitos ou estereotipos. (meu ponto de vista)
Ótimo texto.
[…] outro seja generoso. Desse modo, ainda que ambos recebam, o foco, a energia e a felicidade está em oferecer. Na verdade, o que acontece por trás da generosidade é um processo de abertura e […]
É um dos melhores textos que já li aqui , oferecer algo de bom pras pessoas é um coisa muito gratificante.
já me coloquei na posição de mendicante e realmente é péssimo.
muitas vezes fazer algo simples pra alguém, já acaba mudando o dia dessa pessoa e o seu também
Muito bom, Gustavo!
Eu sou uma pessoa muito fechada, sempre esperei demais das pessoas, e acabei me fechando ainda mais.
Realmente, como o André falou, caiu como um TAPA NA CARA.
O mundo hoje é egocêntrico, as pessoas caminham assim. Só querem ganhar.
Só tenho uma dúvida:
Essa postura não é uma “estratégia”?
Parabéns!
[…] e cuidar da vida da praça. Em vez de correr atrás de gaúchas ou goianas, em vez de se perguntar o que o mundo tem a lhe oferecer, brinque com cachorros, faça a mulher mais próxima sorrir, vá todo santo domingo abrir a sala de […]
Saudoso texto!!! Este foi um dos primeiros que li, talvez por volta de 2007, lá da época do Transconhecimento! O primeiro texto do Não2não1 que imprimi e ofereci a uma pessoa. Continua sendo um dos meus prediletos.
Que texto ótimo Gitti. Identifiquei-me de imediato, pois é exatamente assim que estou: estado de mendicância. Péssimo estado, do qual estou tentando sair de todas as formas.Difícil, mas posso praticar esta postura de oferecimento.
[…] nos impede de nos apresentar pela verdadeira profissão, o que nos inspira, nos move, o que temos a oferecer aos outros. O grande porquê, de acordo com essa palestra genial de Simon […]
[…] merecer. Depois de ler um artigo no blog “Não2 Não1”, do meu amigo Gustavo Gitti, titulado “Oferecer” (recomendo a vocês que o leiam), minha visão realmente mudou sobre este tema, a carência. […]
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Professor de TaKeTiNa
Colunista da revista Vida Simples
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