Liberdade, profundidade e presença (para homens) – Parte 1

por Gustavo Gitti 21 setembro 2007 21 comentários

Um Sonho de Liberdade - Filme

“Gustavo, conheci seus escritos atraves do papo de homem e bem, ja me tornei adepto de seus conselhos falando de seu blog a varios amigos. Porem gostaria que você me ajudasse melhor a entender de maneira prática e clara (para que dominando possa melhor praticar) termos como: profundidade, liberdade e presença. Sinto telos compreendidos em parte, mas somente em parte. Aguardo respostas… obrigado.”

Fernando, essa pergunta acertou em cheio. Obrigado! Eu também só compreendo isso em parte e acho que aplico só uns 2% dessa compreensão na prática (0,01% de acordo com minha namorada), mas posso dizer que todas as sugestões desse blog aos homens se resumem no treinamento de profundidade, liberdade e presença.

Vou tentar falar um pouco sobre isso. Tentarei ser claro e prático, mas só ao final do post. 😉 Um pouco de contexto não machuca ninguém, não é mesmo? As definições apresentadas são extremamente pessoais (como tudo neste blog) e não pretendem formar um modelo teórico, apenas orientar nossa ação.

Antes de começar a divisão didática, quero dizer que liberdade, profundidade e presença são três aspectos de uma mesma e única postura. Não são pensamentos, nem visões, nem características. São uma postura, uma atitude. E isso tudo não se treina só com mulheres, mas com qualquer situação, em qualquer âmbito, com qualquer um. Sem pré-requisitos e sem esperar algum resultado imediato.

Ao fim de cada parte, falo sobre os presentes que cada treinamento nos faz abrir e entregar às mulheres. Aguardo seus comentários enriquecedores!

Liberdade

Meus olhos. Onde termina meu horizonte? Até onde consigo ver? Minha liberdade define os limites da minha ação.

Todos nós já incorporamos diversas identidades. Cada uma configurou um mundo ao nosso redor. Hoje damos gargalhadas lembrando de situações que já nos afligiram: “Como pude ser tão tolo?”. Somente depois de passar pelas situações e olhar para trás, conseguimos perceber os limites de nosso mundo até então. Hoje nossos horizontes parecem ilimitados; em breve, perceberemos que não víamos muita coisa. É como se caminhássemos sempre de costas pela vida: os horizontes revelam-se limites, o que é contexto vira conteúdo, o que é sujeito da percepção vira um ponto de perspectiva, o que aparece como nosso mundo inteiro transforma-se em apenas um modo de ver as coisas. Ah, se tivéssemos percebido isso durante, não depois! Não teríamos sofrido e feito sofrer tanto, não teríamos levado tudo tão a sério, as saídas e sorrisos seriam mais acessíveis…

Tal processo é extremamente frustrante e cansativo, já que estamos sempre buscando pela identidade ideal, vencedora, que guardaria os olhos de Deus, a visão de lugal algum, objetividade pura. O problema é que nossa visão é sempre incorporada, em dois sentidos: temos um corpo específico com cinco sentidos e estamos dentro do universo, nunca fora dele. Se qualquer ponto no espaço e no tempo são igualmente limitantes, eles em nada diferem no meu local atual, aqui e agora. Isso significa que a estrutura do processo está totalmente visível em qualquer condição em que nos encontremos. Demonstra também que a solução não pode ser encontrada no nível das identidades, que nascem e morrem e só nos deixam problemas e dívidas. Sabendo que nosso dilema pode ser resolvido agora, mas não do modo com o qual estamos acostumados, por onde começar a procurar? Sugiro uma resposta: procure por aquele, em você, que não é você. Aquele que olha sempre para você, quase rindo, quase indo embora, quase dormindo. Esse outro oculto já está nas suas costas, já vê além de seu mundo e a todo momento já pensa: “”Como posso ser tão tolo?”.

Se assim não fosse, como explicaríamos o fato de nós conseguirmos lembrar de nossos sofrimentos passados e sorrir? Isso é algo surpreendente! A identidade que se irritava morreu. Aquele ser que guardada dor e rancor se foi. Alguns medos, alguns apegos. Todos falecidos. Ora, se nós lembramos disso tudo, algo não morreu. Havia uma consciência observando nossas identidades. Quando sentíamos raiva, algo em nós estava livre da raiva e é justamente esse observador que hoje lembra e consegue sorrir. Essa consciência básica, intocada pelas identidades que flutuam, nos acompanha a cada momento. Ela apenas olha para todas as turbulências e sorri. É ela que nos oferece a liberdade durante o sofrimento, não depois. Afinal, quem disse que precisamos esperar o tempo passar para nos liberar das aflições atuais? Nossa frustração surge justamente desse atraso: quando finalmente dissolvemos uma aflição passada, já estamos presos em uma nova confusão.

Uma emoção perturbadora aflora em forma de impulsos, pensamentos e ações. Eu reajo e causo problemas aos outros e a mim mesmo. Quando essa identidade se for, a consciência básica virá à superfície, mas aí já será tarde demais. Como então acessar essa mente livre a cada momento e agir a partir dela?

Prática

Além da meditação, um método eficaz de treinar liberdade é a auto-observação ou atenção plena (mindfulness). Uma das formas de se praticar é usar um caderno de anotações e fazer um breve relato diário de suas perturbações e insights: “Hoje me senti nervoso quando ouvi críticas”; “Fiquei excitado ao ver a garota da academia”; “Lembrete para mim mesmo: Agir por medo só piora a situação”. Você pode anotar sonhos também. Ao fazer isso, sua mente se acostuma a viver em duas dimensões: uma imersa no mundo e outra mais distanciada, desidentificada.

Hurricane - The MovieOutra forma é tentar lembrar de si mesmo a todo instante. Não importa em que situação, você deve se manter consciente de si mesmo. Se sente raiva, olhe para você sentindo raiva. Se começa a viajar em um pensamento, lembre-se que você está pensando: “Ah, estou pensando!”. Se sente angústia, perceba a angústia e todas as sensações corporais que a acompanham. Observe cada detalhe, mas não reaja ao fenômeno. Se reagir, continue se observando. Não julgue, não interfira, não tente mudar, apenas se observe. Olhe para você mesmo como você está acostumado a olhar para um filme ou para uma avenida extremamente movimentada. Observar sem julgar nem culpar ninguém, ser imparcial, totalmente impassível – esta é a meta. É claro, porém, que não conseguimos realizá-la totalmente pois observador inicial ainda é condicionado e se fixa a vários referenciais.

Quando estiver imerso em alguma tarefa, verá que de vez em quando você se percebe fazendo a tarefa, você lembra de si mesmo: “Ah, sim, estou fazendo isso, eu estou aqui!”. E logo em seguida você volta para a inconsciência, para o piloto automático. Um dos aspectos da prática é manter-se consciente, tanto dos fenômenos interiores quanto dos exteriores – fazendo isso você já começa a perceber a não-dualidade entre o exterior e o interior (o som que ouço é interno ou externo?). Durante o treinamento, estas lembranças de si começam a aparecer mais constantemente. Se você retorna à autoconsciência a cada 5 minutos, isto já é um grande progresso!

No livro A Doutrina Suprema Segundo o Pensamento Zen, Hubert Benoit afirma algo curioso. Quando você está triste, tente sentir a sua tristeza. Não as imagens de tristeza que vêm a sua mente, nem os pensamentos, apenas a tristeza. Você consegue? Ele nos diz que quando vista em si mesmo, ela é apenas uma energia informal que provoca uma certa contratura corporal e psíquica. Se essa contratura for vivida além de repressão e expressão, ela dissolve-se, levando junto todas as imagens que nos perturbam. Qualquer pensamento desaparece e perde sua força quando reconhecido como apenas um pensamento. Ele só nos domina porque é tomado como realidade. Isso acontece porque ficamos imersos nas idéias e nem por um momento damos um passo atrás para percebemos que a confusão (supostamente real) é apenas uma confusão de idéias.

O grande paradoxo é o fato de que esse treinamento será feito pela própria mente que cria os problemas. Desse modo, se alguém pratica a auto-observação sem a instrução de um professor qualificado (que conhece as armadilhas da prática por experiência própria), termina agindo como um bêbado que, com a visão distorcida, toma como remédio contra o vício todas as garrafas que encontra.

A liberdade não diz respeito a objetos exteriores. Qualquer um pode aprender isso no filme Hurricane: nada externo consegue nos aprisionar. As grades de nossa cela são feitas de opiniões, certezas, teorias, expectativas – todas nossas. São nossos hábitos e identidades que nos travam. Ou seja, reprogramar condicionamentos não resolverá e arquitetar identidades de sucesso apenas prolongará nossas frustrações. Um homem só é livre quando se liberta de si mesmo. Para isso, é preciso abdicar de nossos próprios olhos, dar passos para trás, ver nossas próprias costas, adotar uma perspectiva 360º que inclui em seu abraço o máximo possível de horizontes. Enquanto nossa mente estiver dentro de nós mesmos, não teremos chance alguma.

A prática de liberdade revela três qualidades que serão nossos presentes às mulheres. Libertar-se de si mesmo possibilita o presente da leveza. Não responder aos nossos impulsos e não ser carregado por nossas identidades habituais abre espaço para a imprevisibilidade. Lembrar que o outro é livre das características que manifesta é o modo de abrir e entregar o último presente: espacialidade. Eu posso estar errado, mas aposto que apenas os sons dessas 3 palavrinhas já fazem brilhar os olhos de qualquer mulher. 😉

Continua…

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Para transformar nossas relações

Há algum tempo parei de escrever no Não2Não1 e comecei a agir de modo mais coletivo, visando transformações mais efetivas e mais a longo prazo. Para aprofundar nosso desenvolvimento em qualquer âmbito da vida (corpo, mente, relacionamentos, trabalho...), abrimos um espaço que oferece artigos de visão, práticas e treinamentos sugeridos, encontros presenciais e um fórum online com conversas diárias. Você está convidado.



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21 comentários »

  • Ana Lucia

    Gustavo:

    Estou comentando aqui a parte que você fala sobre liberdade. Não sou especialista em nada disso, mas tenho alguma experiência de vida e, como minha experiência me faz concordar muuuuito com você, o que vou fazer aqui não é bem um comentário, mas, talvez, uma “decodificação” do que você falou. Então, se eu estiver decodificando de forma errada, quero que você me diga, tá bem? Se estiver certa, talvez meu comentário sirva para ilustrar um pouco o que você disse, e possa ajudar alguém.
    1)Liberdade, no seu sentido mais amplo, independe do contexto externo.

    Há muito pouco tempo lembro-me de ter feito uma verdadeira pregação contra o comportamento de uma mulher que se mantinha ao lado de um marido que não gostava e que a maltratava, porque com ele tinha (na verdade, acreditava que tinha) estabilidade financeira. Com toda a força da feminista que morava dentro de mim, julguei esse comportamento aviltante para todas as mulheres. Uma “verdadeira vergonha”. E disse, com todas as letras, que jamais faria isso, porque me sentia livre, não seria o dinheiro de um homem que compraria minha companhia!
    Lembro-me muito bem que uma de minhas irmãs virou-se para mim, e disse: mas, quem é realmente livre?
    Essa simples frase me fez rever tudo o que havia dito. E a partir desse momento, nunca mais gritei a plenos pulmões que era livre.
    Estamos nesse tempo e nesse espaço e temos uma necessidade absurda de conviver com outras pessoas e de trocar, o tempo todo. É o que basta para, considerando o contexto externo, concluir que liberdade total realmente não existe.
    Então, é isso: liberdade é uma condição interna, intrínseca de cada indivíduo. Se não, como explicar que pessoas que têm tudo a perder, às vezes rodam a baiana e mudam completamente de vida, enquanto outras que nada têm a perder sentem-se incapazes de mudar uma vida que em nada lhes satisfaz?
    Exemplo prático (desculpem-me mas falo sempre do universo que conheço mais, o feminino, mas acredito que a coisa se dê da mesma forma com os homens):
    uma amiga minha que não trabalha fora e que sempre dependeu financeiramente do marido, disse “chega!” e quis se separar, alegando simplesmente que não gostava mais dele. Enfrentou o mau gênio do homem, entendeu-se muito bem com os filhos, e, sem ter idéia de como se viraria daí pra frente, fez o que quis. Quem conhece o casal, surpreende-se por ela ter conseguido administrar tão bem uma situação que – todos previam – podia transformar-se em verdadeira tragédia grega, e ainda conseguiu manter a amizade com o ex-marido. Ela simplesmente foi fiel ao que desejava do fundo do coração, ou da alma, e seguiu sua crença que lhe dizia que merecia ser mais feliz. Outra amiga minha sabe que o marido grosseirão não a ama mais, porque ele lhe diz isso com todas as letras, há muito não se relaciona sexualmente com ele, é tratada como uma burra e passa todo tipo de vergonha por insistir em manter o casamento, além de sustentar a casa sozinha! Quando lhe pergunto o quê a segura nesse relacionamento infeliz, ela responde que é o apego à idéia de que o casamento deve ser para sempre. O contexto externo não conseguiu mudar o que cada uma tinha dentro de si: a primeira, a idéia de que tinha direito à liberdade, a segunda, exatamente o contrário. Os limites foram demarcados pelas suas crenças, e, na verdade, é sempre assim.
    No caso dos homens, não sou especialista, mas o que observo é que o orgulho acaba com a liberdade deles! Perceber o que é orgulho é que é a questão! Uma coisa é certa: vale a pena parar e repensar em todas as suas crenças. Descobrir quais foram herdadas e quais foram, realmente, elaboradas por vivências próprias, e não alheias. Acho um bom começo. Quando você derruba, uma a uma, todas as teorias que aceitou sem questionar e começa a perceber o que realmente é bom pra você, você fica menos vulnerável e começa a fazer contato mais íntimo com esse você que pode te olhar de fora, com um olhar mais sábio e rir de suas tolices. Por exemplo: preciso mesmo do carro do ano pra me sentir feliz, se, na verdade, é quando faço uma caminhada que me sinto revigorado? Preciso mesmo de um apartamento de luxo, se fico feliz quando me deito ao sol, ou quando me balanço numa rede? Preciso mesmo trabalhar tantas horas pra ganhar um pouco a mais, se isso me custa ficar sem tempo pra bater papo, que é o que mais gosto de fazer? Preciso mesmo ter um objetivo na vida? Preciso crescer, melhorar, enriquecer? Por quê?
    Na verdade, creio eu (me diga se não é isso, por favor) esse outro oculto que o Gustavo diz que olha pra você quase rindo, quase indo embora, quase dormindo, tem toda essa tranqüilidade porque é o você sábio, é sua alma, é seu coração (já ouvi dizer que nosso coração é nosso cérebro sábio). E o grande trabalho que você tem que ter para conseguir a “leveza” que parece tanto agradar às mulheres, é conseguir se aproximar da sua alma e perceber o que “ela” quer, sem se deixar dominar pelo que “sociedade” quer de você.
    Acho que os homens são tão massacrados pelos apelos da sociedade de consumo que perdem quase que totalmente o contato com a própria alma. Tenho perguntado repetidas vezes ao meu ex-marido do que ele realmente gosta. E não consigo arrancar dele uma resposta convincente, porque me parece que ele realmente não sabe direito do que gosta, sempre gostou muito de ganhar dinheiro, mas nunca parou pra se questionar se a forma como estava ganhando dinheiro era algo que lhe dava prazer. Bem, vou ficando por aqui, talvez amanhã consiga comentar o resto , mas, por enquanto, fica a deixa: vá atrás do que lhe dá prazer, que a leveza passa por aí!

    Beijo!

    Analú

  • Ana Lucia

    Gustavo:

    Por incrível que pareça, vou continuar meu comentário, porque esse assunto é muito instigante!

    Continuando a falar sobre leveza:

  • Ana Lucia

    Várias vezes, nos últimos dez ou doze anos, ouvi dizerem sobre mim: – Ela vai durar muito! Ou: – Essa vai viver até os cem anos!

    Quando questionei as pessoas que diziam isso a meu respeito, descobri que elas me achavam extremamente “cabeça-fresca”, ou infantil, moleca, ou “leve”. E diziam isso me olhando com uma expressão de “eu queria ser assim também”, ou “te invejo por isso”.
    Porque não sou de me preocupar(na verdade acho a pré-ocupação bobagem pura, porque normalmente não resolve nada), porque rio com facilidade, porque me divirto com muito pouco, adoro cantar, e sei lá mais o quê.
    Mas… não fui sempre assim. E acho que o que me transformou nessa pessoa mais leve pode ser uma fórmula, similar a essa que o Gustavo descreve (observar-se e dominar as confusões de idéias ), para se melhorar nesse sentido. Assim, vou relatar a minha experiência pessoal, pra que a coisa fique mais inteligível:
    Em certa fase da minha vida entrei em depressão profunda. Fiquei tão mal que fui parar num psiquiatra que, além de doses elevadas de um antidepressivo, me prescreveu análise cognitiva, inicialmente, duas vezes por semana. Durante o primeiro ano de análise, não consegui nem ao menos abordar os problemas práticos da minha vida, porque estava mergulhada em mim, e me “percebia” (ficava num estado de “auto-observação forçada”) o tempo todo. Chegava lá e dizia, desesperada: senti isso e aquilo, acho que vou ficar louca, ou que vou morrer, ou que vou piorar…
    Sabe o que o psiquiatra me dizia? “Isso é assim mesmo, você não vai morrer nem ficar louca. Pode até piorar, mas também pode não piorar… O que há de verdade nisso que você está sentindo? De onde vem essa “crença” de que você é fraca?
    E começou a me ensinar a ver as coisas com mais realismo, frisando sempre que o mundo, ou a vida, são em tons de cinza, não totalmente brancos ou totalmente pretos. Assim, fui aprendendo a viver numa faixa mais equilibrada de pensamentos, questionando sempre que me via num dos extremos.
    Posso dizer que durante esse primeiro ano essa situação de temer o pior se repetiu tantas vezes, que fui percebendo que devia dar menos importância a isso. E quando percebi que tinha virado palhaçada, porque uma pessoa não podia acordar todos os dias pensando no pior e todos os dias ir dormir viva e sã e não aprender que isso era tolice, a “coisa” foi se espaçando, até que sumiu! Claro que não sumiria para o resto da vida, porque sou humana, mas, quando ameaça surgir, atribuo a ela a importância certa e ela se vai! Então, aprendi a lidar com o que o terapeuta chamava de “cascata de pensamento”. Que é o seguinte: todo sentimento brota de um pensamento. Se você pensou algo ruim, temeu, e se sentiu mal, o seu mal-estar pode provocar outro pensamento mais negativo ainda, que vai piorar o seu mal-estar… Portanto, quando você se sente mal,ou “pesado”, investigue o que pensou para sentir o que está sentindo. Questione o pensamento. Transforme-o em algo razoável, real, não fantástico ou fantasioso. O mal-estar vai diminuir, o pensamento vai se distanciar, e o mal-estar vai diminuir mais ainda, até que o pensamento se vai!
    Ou seja: uma das fórmulas é não levar tão à sério os próprios pensamentos! Duvidar deles. Trazê-los para um plano real.
    Dentro dessa mesma experiência há o fator da repetição diminuindo a importância do fato em si.
    Assim, a outra “fórmula” é: se você fizer um “mapa” da sua vida, assinalando todas as situações desagradáveis que viveu (quando pensava que era o seu fim), e como sobreviveu a elas (você está vivo, não está?), vai perceber que nada teve tanta importância assim. E, uma conclusão lógica será a de que, se daqui a quarenta anos você mapear os últimos quarenta anos da sua vida, novamente vai perceber que “nada foi tão importante assim”. (Daí a importância de você fazer mesmo um diário, para poder olhá-lo daqui a algum tempo). Portanto, pode relaxar, porque nos próximos quarenta anos “nada será tão importante assim”! Há motivo melhor para se sentir mais leve? Se você interioriza essa informação, com certeza, quando você estiver numa crise e pensar que o mundo vai acabar, aquele “você” que está te olhando quase rindo (como disse o Gustavo), vai te lembrar disso rapidamente, e você vai ouvi-lo com facilidade! Você passou a não se levar tão à sério. Portanto, está praticando a liberdade, está se libertando de você mesmo. Aquele você orgulhoso, que se julga importante demais e acaba sofrendo demais. Com certeza, nessa fase você já estará uma tonelada mais leve e, também nisso, tenho que dar toda a razão ao Gustavo: a leveza num homem faz nossos olhos brilharem!
    Obrigada, Gustavo, por nos sugerir assuntos tão relevantes!

    Um beijo!

    Ana Lucia

  • Gustavo Gitti

    Olá, Ana Lucia,

    Muito bom ler seu relato. Obrigado!

    Eu tenho bem menos experiência, mas acho que é isso mesmo. O propósito de um diário é explicitar a impermanência. Quando percebemos o fato da impermanência nossa vida ganha mais leveza e também mais riqueza (tudo fica mais vivo quando sabemos que podemos morrer a qualquer momento).

    A cascata dos pensamentos… Qualquer um que já meditou observou como isso funciona. O que chamamos de carma nada mais é do que uma cadeia de reações condicionadas, uma cascata de pensamentos, emoções, hábitos, ações.

    Creio que sem esse tipo de liberdade, os parceiros inevitavelmente acabam construindo uma relação infernal, ainda que no início tenham entrado com muita paixão, respeito e boa vontade. 😉

    Abração para você!!! É um prazer tê-la por aqui.

    O próximo post será sobre profundidade.

  • Fe

    Fala Gustavo,
    tudo bem?
    Aqui, adorei o post. E não vejo a hora de ver a contiuação… (profundidade? o que séra mesmo isto heim? risos).
    Agora só recapitulando para ver se entendi direito o conceito desta postura(reconstrua-o por favor se estiver inadequado).

    Liberdade: ato de me perceber e lembrar(pois por nartureza já somos) que estou livre das realidades de mim mesmo (identidades e fixações) e de todas as realidades que o mundo apresentar para ser, sentir e agir como melhor achar no momento a patir desta perspectiva livre. Sorrir, viver, tomar decisões e agir a partir daí.

    ou em outras palavras:
    Me liberar de tudo pra ser…

    Tá certo? risos.

    No mais aguardo respostas e pode deixar que já
    estou de olhos bem abertos em mim, me observando… risos.

    (motivo pela qual ja repeti a palavra riso três veses)

    Abraços

  • Fernando

    Reconfigurando a segunda frase:

    “Me liberar de tudo pra realmente ser”

    Não esqueça de corrigir… risos.

    Abraços

  • Gustavo Gitti

    Oi Fernando!

    Que segunda frase, cara???

    Abs!

  • Fernando

    Beleza Gustavo,
    Bem, tinha feito um extenso comentário ontem, vejo que o sistema não deve ter assimilado o mesmo quando enviei. Nele disse que adorei o post… Ficou realmente excelente!!! Mesclou com perfeição teoria e pratica. Não vejo à hora de ler o próximo (afinal, o que será profundidade mesmo? Risos)
    Agora, só recapitulado para ver se compreendi bem o conceito desta postura livre. Corrija se estiver desalinhado

    Liberdade: lembrar (e me perceber assim) que estou livre de todas as realidades de mim mesmo (identidades, fixações) e de todas as realidades que a vida (e as abençoadas companheiras) apresentar para ser, senti e a agir como melhor aprouver minha consciência a partir desta perspectiva livre.

    Ou em outras palavras…

    Liberar-me de tudo para realmente ser

    Entendi corretamente? (risos) não esqueça de responder.
    Ah e se der, não demora muito e lançar o proximo, pois já não estou mais aquentando de curiosidade. Afinal, profundidade é o mesmo que vacuidade?
    (Tudo bem, curiosidade (nescessidade de saber algo) tambem é só mais uma fixação. Também vou me liberar dela. Risos….)

    Abraços

  • Gustavo Gitti

    Oi Fernando,

    Você não precisar se livrar de tudo para “realmente ser”, mas apenas perceber que você já é livre EM MEIO A TUDO. O problema é que ler isso em blogs (ou escrever, no meu caso) não adianta nada.

    Há várias modalidades e níveis de prática. Se puder, encontre algum instrutor qualificado e aprenda com ele. Meu professor é o Lama Padma Samten, brasileiro, ex-professor universitário de física e epistemologia. Mas há vários pelo Brasil: Ani Zamba, Monja Coen, Mestre Tokuda, Lama Tsering, Ricardo Sasaki, Claudio Miklos. Estes são só da tradição budista. Não falo das outras porque não conheço, mas todas possuem práticas contemplativas de transformação efetiva, além de crenças e doutrinas estéreis.

    Sobre profundidade, publico hoje. Já adianto que essas definições (como disse no 1o. post) são pessoais e devem ser entendidas no sentido orientador (como um mapa), não como uma explicação formal. Se eu tentasse definir “liberdade”, não conseguiria. Mas escrevi sobre um modo de analisarmos nossa situação e superarmos alguns obstáculos. Entende a diferença?

    Sobre “vacuidade”, isso é um conceito específico do Budismo. Não queira entender sem ouvir ensinamentos de algum mestre. Essa teoria vai acabar todas as suas teorias e não vai deixar nada no lugar! 😉

    Mas, num sentido inicial, “emptiness” significa apenas que as coisas não tem uma existência ou essência inerente, uma solidez dentro delas mesmas. Ou seja, tudo é como um sonho: é luminoso e real, mas não é sólido como parece. Nas ciências cognitivas, você consegue vários exemplos que mostram como todos os supostos atributos de uma realidade externa dependem de nossas configurações cognitivas. Leia A MENTE INCORPORADA (de Francisco Varela) para entender que a cor vermelha não está lá fora na maçã. Isso é vacuidade: o vermelho não está nem na maçã nem dentro de você. 😉

    Escrevi um post explicando melhor isso com mais exemplos: http://nao2nao1.com.br/ensaios/vacuidade-e-impermanencia-nas-relacoes/

    Abração!!!

  • Se transformar no que diz ser « Everlong

    […] com as atitudes de nossos pais e irmãos. Foi interessante observer conscientemente, tentando lembrar de mim mesmo, ver as ações e as […]

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  • Apolo

    OLá gustavo, gostaria de saber oque é essa consciência que vc fala que sorri de nos mesmos, que é livre, que todos nós temos, ela realmente faz parte de min, posso contolá-la, exergá-la…

  • joão leite

    “OLá gustavo, gostaria de saber oque é essa consciência que vc fala que sorri de nos mesmos, que é livre, que todos nós temos, ela realmente faz parte de min, posso contolá-la, exergá-la…”

    Aproveitando a indagação do Apolo, e pelo que observo em mim, não diria que é consciente, parece vir de nosso inconsciente, o “malandrinho” que aparece para lhe dizer: não falei para você que deveria ter agido ou feito assim? não quis ouvir, dá uma bela gargalhada e se vai, quando retornamos ao consciente ficamos abestalhados, e dizemos: pqp!!!!eu já sabia disso. Se está correto, não sei, mas gostaria muito de receber informação a respeito.

  • Quirino

    Psicologia pura! Ouro a 98%…

  • quirino

    Essa liberdade é o ser livre de neuroses, de conflitos interiores, aquele que sabe dar direção ao gozo desmedido e desorientado do feminino. Rolnik em “cartografias do desejo” diz que a mulher dos anos 50 era a noivinha que circulava ao redor do homem que a centrava. Hoje, século XXI elas agradecem quando veem um homem seguro de si que a leva a se centrar por outras vias que não a da dominação masculina do séc passado, mas através da via livre, a via do amor, da complementariedade entre uniformidade masculina e a diversidade do feminino….

    Esse Gitti é um ET! Admiro seu e dom/técnica…

  • Mona

    Gustavo, quem foi que te disse que isso aqui (e os outros dois posts sobre o assunto) são para homens????? Onde está a parte em que as mulheres não cabem? Abraços. Lendo seus posts antigos e admirada como sempre.

  • Gustavo Gitti

    Mona, é claro que se aplica às mulheres.

    Mas é que esse blog é uma pegadinha.

    Com mulheres, caminhos indiretos funcionam melhor.

    Por exemplo, em vez de propor um desafio (“Isso é possível, você pode, mas será que consegue, cara?”), algo que funciona bem com homens, eu descrevo como um homem pode mudar ao mesmo tempo em que elogio as mulheres, apenas descrevendo como elas (supostamente) já são. Aí naturalmente a mulher fica instigada: “Será que eu já sou assim?”.

    Pelo que vi nesses 4 anos, isso funciona melhor. E é isso que recomendo para o cara fazer com sua parceira também: em vez de dar conselhos, apenas dar o exemplo, elogiar e imaginar mundos possíveis. As mulheres caem, fácil, fácil, e aos poucos sentem vontade de superar suas próprias aflições. É bonito de ver.

    Beijo.

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  • brenob

    ” Desse modo, se alguém pratica a auto-observação sem a instrução de um professor qualificado (que conhece as armadilhas da prática por experiência própria), termina agindo como um bêbado que, com a visão distorcida, toma como remédio contra o vício todas as garrafas que encontra.”

    Ontem eu tentei fazer uma meditação, fiquei naquela posição com pernas cruzadas uns 20 minutos tentando relaxar e tentando não pensar em nada mas fiquei bastante perdido.
    vi nesse formspring http://www.formspring.me/dorje que a meditação deve ter um objeto.
    Mas eu queria na meditação o bem-estar que ela produz e não o lado espiritual, o ideal é procurar um grupo de meditação?

    Vlw, gitti.

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