Quando a separação é virtuosa?

por Gustavo Gitti 9 junho 2007 3 comentários

Recebi um email de um amigo querido meu (15 anos) e compartilho com vocês alguns trechos e minha resposta. Troquei, é claro, o nome da namorada. Ao fim, deixo um ensinamento de Chagdud Tulku Rinpoche.

“Cara, eu vo surta… To pedindo ajuda sobre o meu relacionamento com a Paula. Sei la, comigo chegou num ponto q eu to me sentindo preso… Eu olho as outra meninas, da vontade de ficar com elas e talz.. E antes de começar a namorar, eu podia tocar, abraçar, todas elas, da maneira q eu quisesse, sem q isso causasse algo.. Eu era “livre”.. Mas eh claro, nao ficava com nenhuma delas.. nao fazia sexo… E eu queria ter conhecimento disso tudo.. e consegui, mas veio mais preocupaçoes.. Saber se eu satisfazendo ela, tamanho e etc.. tudo essas merda.To com ela faz 1 ano e 2 meses… Foi um tempo otimo.. tudo maravilhoso.. Soh q sei la, n sei oq fazer.. Pensei em terminar.. Ja conversei um pouco com ela, falando como eu me sentia, mas n com palavras q mostrassem realmente oq eu sinto.

Eu tenho medo… Medo de q se quando a gente terminar, eu sinta muita falta dela.. E q se seria errado voltar atras.. E q se voltar, nao seria a mesma coisa. Nao conseguiria ver ela como minha amiga apos a separaçao. Seria estranho.. .Iria querer beija-la, abraça-la, toca-la…

Mas tem a questao deu ainda ser novo.. e nao ter conhecido as mulheres, sim, mulheres certas.. Que ja saibam algo a mais sobre a vida. Será que tenho q conhecer pessoas novas? Outros tipos de personalidades. Tenho medo de n achar alguem como ela, que me ame infinitamente como ela, msm eu sendo gordo e peludo. Tenho medo de ficar infeliz e sozinho pelo resto da vida, sabe?

Porra, num sei oq fazer, e como vc eh bem mais velho q eu, tem mais experiencias e ja me ajudou antes. Sei la, dá sua opiniao aí… Pq isso ta me atrapalhando no dia-a-dia tb!

Qualquer ajuda eh grata… Vlw, abraço!”


Minha resposta:

“Você tá num ponto ótimo, cara. Num ponto de liberdade no qual tem espaço pra decidir que rumo tomar e ajudar a Paula a tomar decisões lúcidas também.

A primeira coisa prática que eu indicaria é a seguinte: passe um dia inteiro sem jogar videogame, assistir TV ou entrar na internet. Acorde, tome um bom banho, vá andar num parque (aquele perto da sua casa), leve um livro, volte andando, olhe para tudo e para todos, compre um sorvete, sinta o sabor do sorvete, do vento, o sabor de estar vivo. Compre algo pra sua mãe para dar quando chegar (pode ser um doce ou um pão bacana), assim ela não vai perturbá-lo com perguntas. Chegue em casa, outro banho, vá pra academia. Sue, malhe, corra bastante. Volte pra casa e durma por bastante tempo. Não ligue para ninguém. Não entre na internet. Ah, e faça isso sozinho, em silêncio.

Tudo isso porque sua mente precisa estar calma e equilibrada (longe das distrações nossas usuais) para pensar no próprio destino, pensar se gosta da Paula ou não, pensar no que é melhor para a Paula e para você.

A segunda coisa prática seria não desistir logo de saída da Paula. Tentar alterar as coisas, oferecer algo para ela como se ela fosse a mulher da sua vida e vocês fossem morrer amanhã. Faça algo pensando em quanto ela foi boa para você. Prepare um presente bacana (compre algo que ela goste, uma caixa legal para botar o presente dentro, etc), compre flores e surpreenda-a. Para entregar, prepare uma noite surpresa no seu quarto ou leve pra ela… Sei lá. A idéia é que a relação fique bem, seja na proximidade ou na distância, como casal ou como ex-namorados.

Ao mesmo tempo que oferecer tudo o que você tem para ela, analise seu próprio coração. Você fica imensamente feliz quando a faz feliz? Brota alegria? Se sim, continue com ela, fazendo-a feliz. A pergunta “ela me faz feliz ou poderei ser mais feliz com outras?” está errada. É claro que você poderá ser feliz com outras! Uma dica: você pode ser feliz com qualquer garota, o diferencial está naquela que você pode realmente fazer feliz. A pergunta certa então é: “Eu consigo ajudá-la a ser mais bonita, mais inteligente, mais livre e solta? E ao fazer isso estou eu mesmo me tornando mais bonito, mais inteligente, mais livre?”. Se vocês estão se transformando juntos, continuem. Se não estão proporcionando o desenvolvimento um do outro, então a separação é uma opção.

Da próxima vez que estiver com o pau dentro dela, experimente respirá-la. Sinta-a por inteiro e observe como você mesmo se sente. Com outras garotas, não será diferente, acredite. As experiências mudam quando nossa mente muda, não quando as pessoas, objetos e mundos mudam ao nosso redor. Se quiser alterar suas experiências, altere seu olhar, senão terá de trocar de namorada a cada mês, e duvido que isso o fará mais feliz.

Por enquanto, apenas não reaja ou tome decisões precipitadas. Lembre-se de respirar fundo a cada momento. Depois de tomar uma decisão acertada, todas as pessoas sentem a mesma coisa: “Eu sabia disso desde o primeiro momento!”. Ou seja, no fundo você já sabe o que fazer, mas tem medo ou insegurança ou não tem coragem suficiente para fazê-lo e por isso cria justificativas e fica confuso.

Ah, nem todas as mulheres ligam para pêlos e gorduras. As melhores buscam algo mais, algo que muitos bonitões nem se preocupam em se tornar. E aí este será seu diferencial. Mas para isso você tem de se tornar um homem de verdade: profundo, inteligente, bem humorado, livre.

Você terá várias garotas, não se preocupe. Sua decisão não tem de se basear nisso. Você também vai se arrepender várias vezes na vida. Não se preocupe quanto a isso também. 😉

Enfim, não tenha medo de errar e se foder grande. Você vai se foder de qualquer jeito e no fim você vai morrer. Por isso comece desde já a buscar por aquilo que nunca nasceu e que ficará intocado pela morte.

A gente se fala… Abração!”

Chagdud Tulku Rinpoche fala sobre separação:

“Em geral, é melhor poder manter um relacionamento ao invés de deixá-lo acabar. No samsara, em nosso reino humano, você nunca encontrará uma pessoa que seja como um deus. Todos têm algum tipo de problema.Entretanto, se um relacionamento simplesmente não está funcionando, se apesar de seus melhores esforços para ser amável, bondosa e compassiva, você e seu cônjuge estiverem sempre sofrendo, e a raiva e a luta estiverem criando um ambiente desagradável para seus filhos, então eles também desenvolverão dificuldades emocionais. […] Então por que empurrá-lo? Temos nossos corpos humanos apenas por um tempo muito curto. Se não pudermos trazer felicidade para o nosso relacionamento, se estivermos apenas criando não-virtude e mais sofrimento a curto e longo prazo, criando um karma infernal através de nossa raiva e luta, então provavelmente devemos pedir um divórcio.

Porém, se for possível encontrar um modo de melhorar o relacionamento, de trazer felicidade para ele, é melhor mantê-lo, reconhecendo que nenhum relacionamento é ideal, que sempre há alguma raiva, algumas pequenas discussões. É melhor continuar porque você nunca terá um relacionamento em que não haja raiva, em que não haja emoções.”

E feliz dia dos namorados para todos nós!

Blog Widget by LinkWithin

Para transformar nossas relações

Há algum tempo parei de escrever no Não2Não1 e comecei a agir de modo mais coletivo, visando transformações mais efetivas e mais a longo prazo. Para aprofundar nosso desenvolvimento em qualquer âmbito da vida (corpo, mente, relacionamentos, trabalho...), abrimos um espaço que oferece artigos de visão, práticas e treinamentos sugeridos, encontros presenciais e um fórum online com conversas diárias. Você está convidado.



Receba o próximo texto

3 comentários »

  • tina oiticica harris

    É difícil deixar meu URL pois ele não é mais Blogger. Vejamos:
    Universo Anárquico

    Teus conselhos têm uns aspectos meio hilários. Primeiro, a dúvida do pau precede a existência da Net ou TV. A monogamia é artificial.
    Segundo, dizem que o humor paulista é diferente. Não sei. Uma frase de blog “quando o seu pau está dentro dela” é um pouco vulgar pra mim.

    O namoro terminará. Não sei quantos anos teu amigo tem. Nelson Rodrigues já disse que “amor que termina não era amor” e eu digo que todos os amores deixam suas marcas.

    Finalmente, “entre marido e mulher ninguém mete a colher.” Não teve zen budismo no mundo que livrasse o George Harrison de uma bela chifrada da Patty Boyd.

    Bom dia dos namorados ;P))

  • Daniel

    Se é feliz e infeliz estando solteiro ou não. Imagino que a grande lição é saber relevar o que merece ser assim tratado, e amar cada riso e cada defeito da sua mulher. Se ambos estiverem evoluindo ao longo da caminhada que fazem lado a lado, a relação é feliz, proveitosa e livre.

    Bah, e que interessante o argumento de Chagdud Tulku Rinpoche. Profundo e simples.

  • DBy

    Sempre li o Não2Não1, mas o título com a palavra “separação” nunca me chamou a atenção. Hoje relendo alguns textos e depois de um fim de namoro de 4anos e 1 mês(ontem) resolvo abrir o texto. E tenho a sensação que o texto foi feito para mim:

    “Eu consigo ajudá-la a ser mais bonita, mais inteligente, mais livre e solta? E ao fazer isso estou eu mesmo me tornando mais bonito, mais inteligente, mais livre?”
    A minha resposta é NÃO. E agora entendo pq chegou ao fim. Mesmo sem nós querermos.(se é que vc entende).

    Mas mesmo tento ciência disso, não torna a situação mais fácil. Sinto falta dele, e quero ele de volta. E ele ligando piora ainda mais a situação.

Deixe seu comentário...

Se for falar de seu relacionamento no comentário, seja breve, não cite nomes e não dê muitos detalhes, caso contrário não será publicado. Lembre-se que não há nenhum terapeuta de plantão.