Mulher de Chico

por Gustavo Gitti 14 outubro 2007 5 comentários

Chico BuarqueA imagem ao lado é para quem leu “TPM” no título do post. Na verdade, o título do texto de Isabel F. R. Labriola (psicóloga junguiana) é muito melhor: “As Mulheres em Chico ou As mulheres do Chico?”. Recebi da querida amiga Adeir Reis e li, extasiado (apesar de não gostar de muito do que se faz em nome de Jung hoje).

A proposta do ensaio é muito boa:

“É da preciosidade dos encontros e desencontros homem-mulher, presentes na obra musical de Chico Buarque de Holanda, que pretende se ocupar a minha fala. Mais precisamente, dos deslocamentos possíveis do feminino e do masculino presentes em nossa cultura, e na obra de Chico Buarque, que resultam em formas variadas e determinadas do vir a ser “mulher”. Então, e já esclarecendo o título, pretendo localizar sim as mulheres na obra do Chico mas quero também ousar afirmar que ele constrói as possibilidades de emergência de um certo tipo de mulher, que eu chamaria de “as mulheres do Chico”.”

Gostei desse trecho no qual ela lista alguns lugares-comuns do ser-mulher:

“Ser uma mulher implica em localizar, dentro de um discurso masculino que constrói a feminilidade, alternativas para que mulher se pode ser. Numa posição passiva do feminino, as opções oferecidas em geral situam-se entre “mãe” (ou “santa”) e “histérica”(ou “puta”). Em geral, caminhamos entre personagens da adolescente ingênua e romântica (Perséfone), da esposa virtuosa (Hera) ou da amante apaixonada (Afrodite).”

E então a autora se propõe a falar da construção do feminino:

“O projeto de individuação para as mulheres implica em encontrar um discurso singular que possa expressar “a mulher” que se é; o que implica em buscar ser uma “outra”, que não necessariamente a mãe ou a histérica. Nosso desafio é encontrarmos, cada uma, um eixo singular de desejo e gozo entre o masculino e o feminino; acharmos um ajuste individual e cultural para sermos o mais possível sujeito do nosso destino.”

A conclusão é pela arte (para mim, é quase impossível falar do feminino sem falar em arte):

“Somos mulheres do Chico, quando sua arte poética e musical nos reconecta com o nosso desejo anímico interior e suas múltiplas possibilidades de expressão no reino do masculino e do feminino, o que resulta na maturidade de uma sexualidade adulta nas relações e nas soluções. Somos então mulheres modernas, capazes da delicadeza e da maturidade de uma feminilidade composta. O resultado provisório e constante dos ajustes entre feminino e masculino, porque estamos sempre permeáveis a um novo olhar e um novo encontro com nossas virtualidades criativas. Somos então, mulheres da individuação, capazes de nos equilibrar com elegância nessa saia justa e nesse salto alto.”

Aqui está o texto na íntegra. Leia também outros artigos com abordagem junguiana.

Para quem gostou dessa abordagem, existe esse livro:

Figuras do Feminino na Canção de Chico Buarque
Autora: Adélia Bezerra De Meneses
Nº de páginas: 164
Descrição: É esta a proposta do livro: um estudo temático das letras que modulam o feminino. Apontam-se entre outros tópicos, a mulher “órfica” e a mulher prometéica”; a ordem da festa e a ordem do trágico; a ruptura com o discurso habitual sobre a mulher; e a sobreposição das imagens da mulher e da cidade, mesclando o afetivo e o social, o sexual e o político. Mas as Figuras do Feminino que o título deste volume evoca não se restingirão à alta poesia de Chico Buarque: dirão respeito também a figurações de que a mulher brasileira se reveste na pintura. Assim, as reproduções de DiCavalcanti, Ismael Nery, Vicente do Rêgo Monteiro, Volpi, entre outros, estabelecerão – pela mera oposição – um diálogo texto-imagem de grande eficácia.

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5 comentários »

  • Marcelo Nicchio

    Olá Gustavo, obrigado pela dica amigo.

    Pouca gente sabia e já espalhei a dica pelo twitter.
    A proposito, você está no twitter?

    Muito legal seu blog. Já assinei.
    Passarei a acompanhá-lo.

    Abraço

  • Taline

    Quanta sensibilidade.;Em sentir o mundo..em sentir as pessoas. Não me canso de ler teus textos. Estou animada, com um sorriso de orelha a orelha lendo-os! Parabens.

    Cabe ao teu site nosso dignissimo Mario Quintana, num dos momentos mais lindos e então descritos: Tão bom morrer de amor e continuar vivendo!

  • Ah!!!!!!!!!!! As músicas do Chico são maravilhosas.E eu já fui loucamente apaixonada pelos seus olhos verdes no início de minha adolescência lá pelos 12 anos não faz mto tempo só tenho 20 rsrsrs. Pena que hoje a boa música como a dele não é tão divulgada e tocada. Alguém se lembra da última vez que Chico foi na Tv aberta cantar?

  • Ops,Sorry me empolguei com o Chico . Ótimo post…

  • A Nova Revista da Velha Mulher: por que mulheres peladas são capa de publicações femininas? | Revista Papo de Homem – Lifestyle Magazine

    […] existe um elemento “unificador” entre as mulheres: cada uma é única. Sim, Martinho da Vila e Chico Buarque estavam certos em ver as mulheres em suas diferenças. E realmente, as mulheres podem parecer, […]

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