A arte de pisar em nuvens

por Gustavo Gitti 24 julho 2008 43 comentários

nuvens

“O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.” –Milan Kundera, em A Insustentável Leveza do Ser

Suspensão: agora é a cozinha que recepciona o êxtase. Começa metendo por cima da mesa de vidro, mas logo ele a levanta. Ali tudo faz sentido, tudo repousa. É a posição preferida dela: suspensa, entregue, sem nenhum pé no chão, menina e mulher, segurando e se soltando. Ele apoia o pé esquerdo na cadeira e com a coxa levanta a perna direita dela (a esquerda é sustentada pelo seu braço direito). Ela hesita, não sabe se ele aguentará o peso. Levemente, ele a joga para cima. Ela cai, ele fundo dentro. Ela confia. Não há mais por que hesitar.

O filósofo David Loy sugere a idéia de que nós evitamos o vazio (“avoid the void”), de que nosso medo e ansiedade surgem da possibilidade de nosso eu não ser real, de nossas identidades não serem tão sólidas como imaginamos. Segundo ele, buscamos existir e nos tornarmos reais por meio do dinheiro, da fama, do amor romântico e da tecnologia. Procuramos por alguma base para fixar os pés e ali nos sentimos protegidos. O pessoal do trabalho nos concede qualidades, nosso parceiro amoroso nos elogia, somos irresistíveis pelo MSN, compramos roupas e gadgets que nos deixam vivos diante da sociedade.

É impressionante como colocamos energia e vinculamos nossa felicidade a elementos impermanentes (uma pessoa, uma instituição, uma casa, uma cidade, nosso corpo): quando eles flutuam, oscilamos; quando desabam, morremos junto. Por termos medo de viver sem bases, nos agarramos a bases frágeis, como se elas fossem seguras e eternas.

Quando entramos em crise, somos como o Coiote (Wile E. Coyote) que, ao fugir do Papa-Léguas (RoadRunner), se dá conta que passou do limite do penhasco e ficou alguns segundos correndo sem chão. Temos a sensação de base até que olhamos para o chão e tomamos um susto: não há nada abaixo de nós! Assim que percebemos isso, começamos a cair e buscamos desesperadamente por outra base. Com a nova sensação de pés no chão (depois de uma promoção no trabalho ou uma bela noitada com a nova paixão), paramos de olhar para baixo. De fato, a sensação de segurança vem dessa ilusão, cegueira voluntária. A base dura, portanto, até o momento em que algo nos levanta as pálpebras, até que olhamos novamente para baixo e vemos que estamos há tempos andando sem chão.

Ora, nunca houve penhasco algum! Em nenhum momento de nossas vidas realmente estivemos em um chão seguro. A crise só acontece pois temos a sensação de perder algo que nunca tivemos. Desde nosso nascimento, estamos andando céu afora, sem porto seguro, sem referencial último, sem certezas absolutas, sem colo incondicional. Não precisamos nos desesperar quando a vida puxa nosso tapete e perdemos o chão: ele nunca existiu. (A mesma idéia se apresenta na instrução “Viva como se estivesse morto”: sem medo de perder a vida, pois não mais a tenho, posso finalmente viver).

Curiosamente, ao viver sem bases, ganhamos potência e intensidade. Enquanto buscávamos segurança, deixávamos um pé atrás diante dos mergulhos inevitáveis da vida – no outro, nas artes, no mundo e no amor. Agora, na espacialidade sem sustentação, nos jogamos inteiros, com força total. Já que nosso medo é virar nada, cessar de existir, não ser, corremos em sua direção e nos tornamos um imenso nada, para que tudo seja em nós. Tal processo levou Nietzsche a dizer:

“Vamos matar o espírito da gravidade!
Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr.
Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar.
Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de mim mesmo,
agora um Deus dança em mim!”

Se desejamos percorrer o amor, frui-lo por dentro e ser levados por ele, não podemos fixar os pés, não podemos tocar o chão. É na suspensão, a mesma da posição sexual na cozinha, que nos livramos do medo. No chão, toda pisada esconde medo e esperança. No chão, os olhos se fecham, os pés hesitam: o calcanhar verifica a solidez, as pontas dos dedos conferem se não há um buraco logo a frente. Só andamos se o chão diz OK. Só amamos se confirmamos cada sentimento no outro. No chão, mal pisamos. Andamos torto.

Suspensos, olhamos para as nuvens abaixo. Abrimos os olhos e pisamos fundo. Nosso andar é confiante pois não faz checagens – os pés não buscam solidez. Não há medo de cair já que o chão inexiste. A queda só dói quando há chão. Queda sem chão tem outro nome: vôo. Amar é sair andando e de repente se descobrir voando. É o amor, não só a Marisa, que nos chama cantando: “Vem andar e voa… vem andar e voa”.

“Isto é amor: voar na direção de um céu secreto,
fazer com que cem véus caiam a cada momento.
Primeiro soltar-se da vida
E finalmente dar um passo sem pés.”
Rumi (poeta e sábio sufi)

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43 comentários »

  • mariane

    ainda to engatinhando nessa arte! rs!

    bjos

  • Carol Vianna

    Tem certeza que vc não um mestre taoísta de 117 anos encarnado no corpo de um moleque!? Heheheheheh! Adorei! E pra nos livrarmos do medo só podemos fazer uma coisa: dar a cara a tapa sempre! Tornar o desconfortável sua busca diária! 😛

  • Gustavo Gitti

    Tenho, sim. Um mestre taoísta de 117 anos teria meios hábeis para beneficiar os seres INFINITAMENTE melhores do que um blog lilás. hahhahahahah

    Ei, você é leitora da Pema Chodron, né? Nesse post eu quase a citei.

    Ah, olha só, a Pema será a próxima da série “Mulheres que me dão tesão”. E, não, eu não sinto tesão pela Pema… hahhhah

  • gabi

    “Queda sem chão tem outro nome: vôo. Amar é sair andando e de repente se descobrir voando.”

    Não é preciso dizer mais nada. Essas duas frases do texto dizem tudo.

    Excelente texto!

    abç

  • L.

    isso é uma coisa que sempre me incomodou de uma certa forma, a irrealidade das coisas que pensamos ser de um modo ou de outro.
    Eu sempre penso, o que muda, caso mudemos de lugar, mudemos nossa maneira de agir? creio eu que é muito possível, simplesmente ser outra pessoa, se mudarmos todo o contexto.
    E se é possível mudar com o contexto, também é possível sem ele.

    é o conforto que nos segura, justamente o ficar parado e a sensação de estabilidade que isso dá. Mas quem está voando e fica parado cai no fim… 🙂

  • carol

    Bicho,

    Estou em êxtase. Lindo texto, lindo!

  • Carol Vianna

    Discordo! Um mestre taoísta estaria numa montanha cercado por alguns discípulos e só! Já vc e seu blog lilás podem atingir milhares de pessoas, não é foda?

    Espero ansiosamente pelo post sobre a Pema. Sabia que tinha alguma coisa dela por trás deste texto… Ela tb “me dá muuito tesão!” Por favor, aspas, muuuuitas aspas! Hahahhahaahha!!!

    ^^

  • Ticiano

    Show de bola! Difícil é lembrar disso o tempo todo, que não havendo chão não há tombo. Ótimo.

  • Nati

    Gostei, gostei muito…

    Principalmente da descrição da Suspensão.. no começo do post..

    Delícia ler relatos.. imaginados ou vividos..

  • Cris

    Sabe ano passado terminei um relacionamento de muitos anos e muito seguro tmb, ou seja, meu chão…mas qndo voltei pra casa da minha mãe percebi q não me senti sem chão, me sentia muito segura com ele claro mas fiquei firme, forte…era incrível eu parecia ser a pessoa mais livre andando pelas ruas, a mais bonita, a mais feliz…até q a morte inesperada do meu pai me fez olhar para baixo e ops percebi q estava sem chão, meu chão não estava mais ali por opção minha e eu sabia q se eu quisesse teria um chão de novo…
    Conclusão me sentia e me sinto até hj uma garotinha q perdeu seu herói, qndo me separei logo pensei se ele(meu ex) atormentar minha vida vo morar com meu pai(pois ele morava em outra cidade)então seria fácil recomeçar, uma válvula de escape pra mim.
    Mas ai ele q me traz a notícia e junto td sua compreesão, carinho, ombro amigo…enfim….ja estava curtindo minha liberdade, outra pessoa mas nd disso me fazia sentir(o chão)só ele me trazia a segurança q precisava no momento.

    Ps:Sei q coloquei uma maneira diferente q vc citou mas pode esparar q volto…

  • Daniel

    É fantástico perceber que o mesmo chão que buscamos desesperadamente para dar passos e pulos é o que faz doer as quedas.

    “Preocupe não… se cair, do chão não passa!” – costumam nos dizer. Só que é exatamente em ‘não passar do chão’ que está a dor. Quero é passar do chão. Tem mais Céu acima e abaixo!

    Degustando seu texto, passou voando em minha mente a imagem de um pássaro recém-nascido levando sua primeira queda. E já é seu primeiro vôo.

    Em muitos momentos até diremos algo assim:

    “(… )
    Eu que não sou fi de passarim, de vento, nem de avião
    Não posso viver assim, sem tirar os pés do chão
    Deixando escorrer de mim tudo que for emoção
    Se eu não posso bater asas, que bata meu coração” – Vander Lee – Tavimatutú

    Mas, seu texto é uma rasteira sim de Mestre Taoísta de 117 anos! 🙂
    Um golpe de arte marcial que derruba nossas pernas de segurança em um mundo sólido e ainda mostra que as pernas, nossas e de quem deu o golpe, não estão aqui.

    Obrigado pelo fugaz e bela rasteira!

  • Daniel

    *pela fugaz e bela rasteira!!!
    kkkk

  • Gustavo Gitti

    CRIS, você descreveu a história de todos: garotinhas sem herói, sem príncipe e sem pai. Nossa falta, a psicanálise já sabe, não tem como ser preenchida.

    David Loy estudou psicanálise, mas foi na prática da meditação que ele viu uma saída: nós já somos sem chão algum e isso é motivo de felicidade, não de sofrimento.

    A gente se esforça para ser alguém e foge do nada que somos. E esse é um processo de constante insatisfação. Mais fácil é ser, logo, o nada e assim descobrir a liberdade de ser qualquer um e de morrer constantemente, sempre renascido outro. Isso tem um nome: dança.

    DANIEL, cara, o bom comentário é aquele que faz você pensar: “Caralho, eu deveria ter colocado isso no post original! Eu colocaria isso no original:

    <<“Preocupe não… se cair, do chão não passa!” - costumam nos dizer. Só que é exatamente em ‘não passar do chão’ que está a dor. Quero é passar do chão. Tem mais Céu acima e abaixo!>>

    Abs!

  • Maria Thereza

    esse trecho do Kundera me lembra uma música do Lorenzo Jovanotti que diz “la vertigine non è paura di cadere, ma voglia di volare” (a vertigem não é medo de cair, mas vontade de voar). acredito muito nisso!

    bjo

  • Monix

    Nossa, o texto está tão perfeito que não consegui não comentar – embora não tenha nenhum comentário a fazer. 😉
    Só quero registrar o elogio e contar que me identifiquei muito com esse post, que juntou duas coisas minhas: vertigem (que interpreto como medo do desejo de pular) e vontade de voar. Aliás, no fundo as duas coisas são a mesma coisa.
    Beijo

  • Gustavo Gitti

    monix-frida-querida, é um prazer ser lido por você. bjo!

  • B.

    Malditas bases que eventualmente nos impedem de viver.

    “ao viver sem bases, ganhamos potência e intensidade”

    Texto para pensar andando nas nuvens…

  • Srta. Rosa

    Bicho, às vezes você é tão poético que eu tenho que ler mais de uma vez pra entender as entrelinhas. Rs.

    A verdade é que o nosso amor a gente inventa, assim como é também a gente que inventa o chão.

    Bezzos, Gitti!

  • Natasha

    Bem, então…vamos dançar, ou quem sabe, não seria voar!!!

    Parabéns moço texto e comentários prefeitos para pessoas em momento de razantes e piruetas como o meu…

  • Cris

    “…descobrir a liberdade de ser qualquer um e de morrer constantemente, sempre renascido outro.”

    POSSO TE AFIRMAR Q ME ENCONTRO VIVENDO ESSA FASE !!!

    Fui almoçar e bem na hr k estava passando ouvi o trecho dessa música:

    …por vc vivo nas nuvens
    Nuvens feitas de algodão…

    Me fez pensar q queremos voar(por vc vivo nas nuvens) mas q esse vôo ao aterrissar seja calminho não em tombos e capotagens…(nuvens feitas de algodão)
    Como no amor, por exemplo, penso q sempre antes do amor vem primeiro aquela paixão avassaladora – que é qndo nos decidimos … voar ou não, ou seja, voar é o ato de entrega, ir fundo em algum objetivo, sem pudor, sem medo, sem olhar para tráz ou nesse caso para o “chão”.

  • @anarina

    Gustavo, eu gosto muito das suas idéias.

  • BRUNO

    Muito bomm.. li rapidão mesmo assim adorei =D

  • Rhode

    Bom seria se o chão fosse água, e amortecesse, acolhesse, depois da queda.

    Bem, dependendo do ponto de vista, às vezes é.

    E depois de voar, a gente nada.

  • carol

    Muito bom teu blog, não é atoa que foi votado ao blog 5 estrelas.
    Parabéns!!!

  • Flávia

    Essa postura do “avoid the void” é uma coisa quase atávica, perceptível desde que somos criancinhas – começa a se manifestar na figura dos amigos imaginários, depois nas fantasias com super-heróis, depois nas utopias de dimensões quase titânicas da adolescência… até chegar na sua expressão máxima, justamente a que diz respeito aos relacionamentos amorosos. Cada relacionamento é uma nova possibilidade de polir o desejo pelo tão ansiado colo incondicional – cuja existência é incompatível com a natureza humana, tão desafeita à incondicionalidade… e as quedas são inevitáveis. O que realmente interessa é aprender a se reerguer ao invés de continuar prostrado no chão, agarrando-se ao medo de se atirar em uma nova relação, em um novo colo, em um novo coração… quando deixamos de nos preocupar com um chão cuja proximidade é impossível de determinar e nos atemos ao prazer de sentir o próprio corpo flutuando nessa atmosfera de amor, de paixão, o vôo é simplesmente delicioso.

    Beijos, leonino com ascendente em capricórnio 😉

  • Carol Vianna

    “A gente se esforça para ser alguém e foge do nada que somos. E esse é um processo de constante insatisfação. Mais fácil é ser, logo, o nada e assim descobrir a liberdade de ser qualquer um e de morrer constantemente, sempre renascido outro. Isso tem um nome: dança.”

    Depois me diz que não é um mestre chinezinho de 134 anos? Vc só troca kung fu por dança… assim os ocidentais entendem melhor!

    =D

  • Gustavo Gitti

    Carol Vianna, to rindo alto aqui! hahaaha…

    Flávia, vc disse tudo. Mais um comentário que eu deveria ter colocado logo de saída no post original:

    “quando deixamos de nos preocupar com um chão cuja proximidade é impossível de determinar e nos atemos ao prazer de sentir o próprio corpo flutuando nessa atmosfera de amor, de paixão, o vôo é simplesmente delicioso”

  • C.

    Hhhhhhmmmm!! Gostei!! Chão, pra que chão!

  • Patrícia

    Incrível como a sensação do vôo é infinitamente boa, assim. A gente deve ter nascido para isto… É como se o tal chão estivesse por todos os lados. Amar estando cercado de chão.

    Belíssimo texto.
    Belíssimo espaço.

    Flávia me indicou e voltarei mais.
    Meu beijo pra você.

  • Barbara

    Tudo o que a gente vive, o tempo todo, é efêmero. Por isso, sempre digo que devemos viver o hoje. Eu tenho um relacionamento com uma pessoa fantástica, estamos juntos há 6 anos e vivendo sob o mesmo teto há uns quase 3 anos (juro, nao sei o dia q ele mudou pra minha casa de vez…), e nós nos reconquistamos todos os dias, comemoramos as pequenas conquistas e nos amparamos nas tristezas.
    Mas não pense que foram sempre flores! No começo, tivemos medo, passamos por perdas que deixaram marcas profundas em nossas almas, aparamos muitas arestas, e continuamos evoluindo, como casal e como indivíduos, juntos e separados, mas sempre com muito, muito amor.

    beijos e parabéns pelo blog.

  • Gustavo Gitti

    Barbara, li sua mensagem no chat ontem. Obrigado por deixar o comentário aqui também.

    Ei, depois você me conta o segredo desses 6 anos? Eu morei junto por 3 anos também. Demais, né? Toda a aventura da solteirice não chega aos pés desse lance de construir mundos junto com alguém.

    Os DVDs e livros que estavam em cima do balcão da sala foram arremessados para dar espaço. O vinho caiu no sofá que estava atravessado no meio da sala. Mas o mais gostoso é arrumar isso tudo, JUNTOS, no dia seguinte.

    Bjo.

  • Daniel

    Gostei tanto do comentário que sugiro Bárbara e a pessoa fantástica numa “Conversa de Travesseiro”!
    🙂

  • Gustavo Gitti

    Barbara, tá feito o convite: vê como seu marido se ele topa participar de uma entrevista igual essa aqui ó:

    http://nao2nao1.com.br/entrevista-ian-marina-conversas-travesseiro/

    Valeu, Daniel!

  • Adriana

    Gustavo:
    Para mim, a trilha sonora deste post é Caetano na cabeça…

    Onde queres revólver, sou coqueiro;
    Onde queres dinheiro, sou paixão!

    Onde queres descanso, sou desejo;
    E onde sou só desejo, queres não!

    E onde não queres nada, nada falta;
    E onde voas bem alto, eu sou o chão;

    E onde pisas no chão,
    Minha alma salta: e ganha liberdade na amplidão…

    Onde queres família, sou maluco;
    E onde queres romântico, burguês!

    Onde queres leblon, sou pernambuco;
    E onde queres eunuco, garanhão!

    E onde queres o sim e o não, talvez;
    Onde vês, eu não vislumbro razão!

    Onde queres o lobo, eu sou o irmão;
    E onde queres cowboy, eu sou chinês!

    Ah, bruta flor do querer…
    Ah, bruta flor, bruta flor!

    Onde queres o ato, eu sou o espírito;
    E onde queres ternura, eu sou tesão!

    Onde queres o livre, decassílabo;
    E onde buscas o anjo, eu sou mulher!

    Onde queres prazer, sou o que dói;
    E onde queres tortura, mansidão!

    Onde queres o lar, revolução;
    E onde queres bandido, eu sou o herói!

    Eu queria querer-te amar o amor,
    Construírmos dulcíssima prisão;

    E encontrar a mais justa adequação:
    Tudo métrica e rima e nunca dor!

    Mas a vida é real e é de viés,
    E vê só que cilada o amor me armou:

    Eu te quero e não me queres como sou;
    Não te quero e não me queres como és…

    Ah, bruta flor do querer…
    Ah, bruta flor, bruta flor!

    Onde queres comício, flipper vídeo;
    E onde queres romance, rock’n roll!

    Onde queres a lua, eu sou o sol;
    Onde a pura-natura, o inseticídeo!

    E onde queres mistério, eu sou a luz;
    Onde queres um canto, o mundo inteiro!

    Onde queres quaresma, fevereiro;
    E onde queres coqueiro, eu sou obus!

    O quereres e o estares sempre a fim,
    Do que em mim é em ti tão desigual…

    Faz-me querer-te bem;
    Querer-te mal:

    Bem a ti, mal ao quereres assim:

    Infinitivamente impessoal;
    E eu querendo querer-te sem ter fim!

    E querendo-te,
    Aprender o total…

    Do querer que há;
    E do que não há em mim!

  • Tia

    “Só amamos se confirmamos cada sentimento no outro. No chão, mal pisamos. Andamos torto.”
    OLha isso é lindo! querer acertar e “só pisar torto”
    Quando será que a gente vai conseguir realmente rasgar as fantasias, e deixar solto o palhaço cheio de laços????
    Quando viveremos realmente os seres unos e belos que somos?
    Parabens garoto, cesta de novo!!!

  • Flavio

    Se me permitem, gostaria de por este texto do Arnaldo Jabor…bem interessante e te faz pensar….:

    Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como
    tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:

    – ‘Ah,terminei o namoro…’
    – ‘Nossa,quanto tempo?’
    – ‘Cinco anos…Mas não deu certo…acabou’
    – ?É não deu…?

    Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.

    E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

    Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se
    somam.

    Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você
    mesmo,
    como cobrar cem por cento do outro?

    E não temos esta coisa completa.

    Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.

    Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.

    Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.

    Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.

    Tudo nós não temos.

    Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.

    Pele é um bicho traiçoeiro.

    Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais
    básico que
    é uma delícia.

    E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te
    impressiona…

    Acho que o beijo é importante…e se o beijo bate…se joga…senão
    bate…mais um Martini, por favor…e vá dar uma volta.

    Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.

    O outro tem o direito de não te querer.

    Não lute, não ligue, não dê pití.

    Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou
    não.

    Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.

    O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se
    a
    pessoa REALMENTE gostar, ela volta.

    Nada de drama.

    Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro,
    recessão de família?

    O legal é alguém que está com você por você.

    E vice versa.

    Não fique com alguém por dó também.

    Ou por medo da solidão.

    Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é
    compartilhado.

    E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar,
    seu
    pensamento.

    Tem gente que pula de um romance para o outro.

    Que medo é este de se ver só, na sua própria compania?

    Gostar dói.

    Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.

    Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro
    universo.

    E nem sempre as coisas saem como você quer…

    A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

    Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.

    Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

    Na vida e no amor, não temos garantias.

    E nem todo sexo bom é para namorar.

    Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.

    Nem todo beijo é para romancear.

    Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.

    Enfim…quem disse que ser adulto é fácil?

    Arnaldo Jabor

  • Babi

    Oi Gustavo! Mas que honra, obrigada pelo convite! Vou falar com ele, sim e te falo.

    Qto ao “segredo”, bom, a gente pode conversar sobre isso em uma outra oportunidade. Tá pagando qto? hahahahahah!

    beijo.

  • Nine Copetti

    (havia escrito muito aqui… e, de repente, não sei o que não fiz. Apaguei tudo o que havia escrito)

    Mas o importante a dizer, tirando-se as quedas, os vôos, o chão e o além do céu e da terra… É que teu blog é nota mil, Gustavo. Ainda estou aqui… “voejando” sobre os textos todos. E ainda me falta um tempo mais. Mas volto com certeza.
    Parabéns pelo texto.
    E pelo blog.
    Abraços.

    (Affff!!!)

    Nine

  • Michelle

    Adorei o texto… Não há mesmo como cair sem chão… o medo da queda nos impede de viver e isso é tão óbvio que nos recusamos a ver que voar é simples e bom…

  • Carla

    “A queda só dói quando há chão”.

    Perfeito!

    Carla Nascentes (um pouco roxa, mas aprendendo a voar…)

  • Srta. Liberdade

    Palavras também têm asas…
    Nos ajudam a voar para lugares inimaginávéis e quando é para dentro nós, então, a viagem é deliciosa! Aqui “matamos o espírito da gravidade” e “andamos voando”. Obrigada pelas palavras esvoaçantes que nos fazem volitar para além de nós mesmos!

  • Amanda

    Texto de quinta categoria. Já fizeste melhor. A Insustentável Leveza tem trechos BEM mais interessantes do que o citado, que serviriam de gancho para análises certamente superiores à auto-ajuda barata de que te mostraste adepto.

  • “I’ll be there for you…” Alguém ainda acredita no Bon Jovi? | Não Dois, Não Um: Um blog sobre relacionamentos lúcidos

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